Para atingir as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris para limitar o aquecimento global a 1,5°C, as emissões de dióxido de carbono (CO2) precisam atingir o chamado cenário de emissão zero até 2050. Para atingir este objetivo é necessário reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE), descarbonizar a economia e aumentar a remoção de carbono da atmosfera. Para isso, é urgente o combate ao desmatamento ilegal e a implementação de práticas que promovam a sustentabilidade, como a agricultura conservacionista. Somente assim, o Brasil será capaz de cumprir seus compromissos climáticos de forma eficaz e sustentável.
O sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é uma das formas da agricultura conservacionista, pois tem como base a manutenção da cobertura vegetal permanente, diversificação com a rotação, sucessão ou consórcios de culturas, e o revolvimento mínimo do solo com o plantio direto. Estas práticas agrícolas contribuem para a sustentabilidade dos sistemas de produção, melhorando as propriedades químicas, físicas e biológicas dos solos, aumentando a ciclagem e a eficiência de utilização dos nutrientes pelas plantas, diversificando e estabilizando a renda e elevando a competitividade na propriedade rural, além de viabilizarem a recuperação de áreas com pastagens degradadas. Ainda, os modelos ILPF se caracterizam pela intensificação sustentável, ou seja, ao mesmo tempo em que possibilitam altas produtividades das culturas e melhoram a qualidade da forragem ofertada aos animais, promovem a melhoria dos serviços do ecossistema, como sequestro de carbono, recarga de aquíferos, melhoria da qualidade do solo. A adoção dos sistemas integrados representa um avanço significativo na busca da sustentabilidade da agricultura brasileira.
As alterações observadas nos sistemas integrados nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo estão ligados à quantidade e qualidade do carbono orgânico. Os resultados de pesquisa da Embrapa e seus parceiros comprovam que esses solos acumulam maior quantidade de carbono, e que a estabilidade dessa matéria orgânica é maior do que nos sistemas convencionais. Porém, se um solo sob condição natural ou sob sistemas conservacionistas são reservatórios de carbono orgânico, solos degradados, que sofreram erosão, perderam sua estrutura e conteúdo de nutrientes, além de diminuir sua capacidade produtiva, são fontes de emissão de carbono para a atmosfera.
A estrutura do solo refere-se à organização dos componentes minerais (areia, silte e argila) com a matéria orgânica do solo formando os agregados. Esse atributo tem impacto significativo na infiltração e capacidade de retenção de água, e na água disponível para as plantas, e pode ser alterada pelas práticas de manejo como preparo do solo, calagem, e rotação de culturas. Então, a presença da matéria orgânica garante a qualidade e saúde dos nossos solos tropicais, com maior armazenamento de carbono, maior eficiência no uso de água e nutrientes pelas plantas e, portanto, maiores produções, além de atuar no equilíbrio global do C na atmosfera.
Os solos ricos em matéria orgânica também proporcionam o habitat ideal para minhocas e outros organismos do solo, que aumentam os espaços dos poros e melhoram sua a estrutura.
Além disso, o aumento do sequestro de carbono no solo também gera cobenefícios, auxiliando a alcançar vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, pois contempla aspectos econômicos, sociais e ambientais, em particular aqueles relacionados à redução da fome (ODS 2) e pobreza extrema (ODS 1, 3) e melhoria da proteção do meio ambiente (ODS 6 , 11, 12, 14, 15) e o clima global (ODS 13).
Para reforçar a importância dos solos na garantia da segurança alimentar, serviços ambientais e combate às mudanças climáticas, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estabeleceu o dia 5 de dezembro como o Dia Mundial do Solo. Os sistemas conservacionistas para agricultura sustentável representam importante estratégia para conservação e melhoria desse recurso natural e a descarbonização da agropecuária brasileira.
Pesquisador – Alberto C. de Campos Bernardi
Embrapa Pecuária Sudeste